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Visão do Felipe Morbi da Soleum: Como restaurar terras degradadas com macaúba e mais espécies nativas?

Atualizado: 28 de mar.

"Estamos na vanguarda da agricultura regenerativa, que usa técnicas para produzir ao mesmo tempo em que recupera ecossistemas. Dessa forma, temos a oportunidade de construir uma nova cadeia produtiva brasileira sustentável; revolucionar a produção de óleos vegetais; fortalecer a bioeconomia e desenvolver, de forma sustentável, territórios rurais"

homem de pé com blusa cor de rosa em um dia ensolarado em um local com plantação de Macaúba



1. Qual é a sua formação e experiência em soluções baseadas na natureza (SBN)?


Sou graduado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV-MG) com mais de 15 anos de experiência em agronegócio, biotecnologia, inovação e sustentabilidade. Sócio- fundador e vice-presidente da Soleum. 


Conheci a Macaúba, palmeira nativa do cerrado brasileiro, em 2008, na época que as pesquisas brasileiras estavam voltadas à descoberta de matérias-primas com potencial de produção de óleo impulsionada pelo Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB). A macaúba se destacou como uma das mais promissoras porque, antes mesmo de qualquer melhoramento genético e manejo, já indicava uma capacidade de produção de óleo por hectare quase 10 vezes maior que a soja.


Nessa época, o professor e pesquisador Sérgio Motoike, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), desenvolveu a tecnologia de quebra de dormência da semente da macaúba, o que possibilitou a produção de sementes pré-germinadas. Sua empresa, a Acrotech, se tornou a única capaz de produzir, em escala, sementes de macaúba. 


Foi por meio da Acrotech que conheci e me encantei pela macaúba. No início duas informações me chamaram à atenção: o enorme potencial de produção de óleo e o fato do desafio da germinação da semente estar resolvido. Então, me dediquei a estudar essa espécie e quanto mais estudava, mais me surpreendia com a versatilidade da macaúba para a produção de óleos, biomassa, proteína e fibras.


Decidi montar um plano de negócio, encontrei investidores e fundamos a empresa Soleá. Focamos no desafio de domesticar a Macaúba e transformá-la em uma cultura agrícola. Dois anos após sua fundação, a Soleá adquiriu a Acrotech.  Neste percurso, também compramos uma fazenda de 2.600 hectares em João Pinheiro (MG) para abrigar o banco de germoplasma da Acrotech, o programa de melhoramento genético e os campos experimentais (com mais de 300 mil árvores e diferentes genótipos de macaúba). A partir das sementes das plantas elite coletadas em campo, a Soleá iniciou o desenvolvimento do programa de Melhoramento Genético, com objetivo de produzir mudas de alta performance, precoces e com elevadas produtividades. Hoje, contamos com uma capacidade de produção de sementes selecionadas para plantar mais de 50 mil hectares por ano e crescendo.


Em 2020, com a chegada de um novo sócio, fundamos a S.Oleum – empresa voltada à produção de matérias-primas sustentáveis, com emissões de carbono negativas, que incorporou a Acrotech e a Soleá.


2. Como você descreveria a proposta de valor da sua organização para alguém novo no setor?


Ao incorporarmos as duas empresas, a S.Oleum se consolidou como a única empresa no mundo com capacidade de escalar a produção para centenas de milhares de hectares com genética de alta produtividade, e isso é um motivo de muito orgulho para nós.


Na S.Oleum, acreditamos que aliar conhecimento e tecnologia às demandas do mundo atual é fundamental para repensarmos a agricultura levando em conta o entendimento de seu impacto na natureza, da mesma forma que precisamos repensar a indústria, de forma a proporcionar sua renovação, trazendo mais eficiência para que se abasteça de forma sustentável.


Para isso, desenvolvemos um modelo de agricultura que combina diferentes culturas dentro de sistemas agroflorestais ou por meio da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) visando reflorestar e restaurar terras degradadas e de baixa produtividade.

A partir deste modelo, nos dedicamos à produção de matérias-primas sustentáveis com carbono negativo, em larga escala, para apoiar a transformação das indústrias de energia, química e de alimentos, por meio da restauração florestal produtiva. É cada vez mais urgente termos alternativas às matérias-primas de origem fóssil em grande escala, de modo que possamos contribuir com a descarbonização da economia global. Como mencionei na questão anterior, a Macaúba é a primeira árvore nativa com a qual estamos trabalhando para a produção de matérias-primas sustentáveis e no reflorestamento e restauração de áreas degradadas. Suas características de produtividade, rusticidade, adaptabilidade, versatilidade e capacidade para recuperar áreas degradadas são incomparáveis. Do seu fruto tudo é aproveitado: óleo vegetal, proteína de alto valor nutricional, fibra alimentar, açúcares e biomassa de alto valor energético, matérias-primas que podem ser aplicadas em diversas indústrias. Em nosso sistema, não há o dilema entre produzir alimentos e produzir energia. Geramos matéria-prima para segmentos essenciais da economia que vão desde alimentos e energia (biocombustíveis) até química e petroquímica (hidrocarbonetos renováveis e especialidades oleoquímicas).


3. Quais são os números ou insights de mercado que mais te animam no espaço de SBN?


Posso falar a respeito do mercado que a S.Oleum está inserida. A demanda por óleos vegetais irá dobrar, dos atuais 200 milhões para próximo de 400 milhões de toneladas/ano em 2050. Entendemos que o país pode suprir uma expressiva fatia desse volume através da recuperação de áreas degradadas, através de sistemas de produção que utilizem árvores da biodiversidade brasileira, em sistemas integrados com agricultura e pecuária. Como resultado, serviços ecossistêmicos são gerados, além do desenvolvimento territorial, gerando impactos social e ambiental relevantes em diferentes regiões com baixo IDH.


O significante volume de carbono que será estocado em função do reflorestamento de dezenas de milhões de hectares de terras, trará ainda mais benefícios à sociedade


4. Quais são as principais dificuldades ou travas que, se resolvidas, podem e têm contribuído para o crescimento das SBN?


Acredito que o principal entrave é a falta de visão de longo prazo, não somente dos gestores públicos mas do brasileiro em geral. Outro ponto fundamental é que os projetos precisam demonstrar viabilidade econômica que justifique sua implementação, no intuito de atrair investimentos relevantes para o ganho de escala e a geração de impacto real. 


5. Você pode ajudar a esclarecer ou contextualizar uma palavra/conceito no espaço SBN que você acha que é frequentemente mal compreendido?


Não quero ser leviano ou injusto, pois existem muitas iniciativas louváveis mas entendo que sustentabilidade e inovação são palavras com muito glamour e usadas em grande parte das organizações em reuniões, eventos e campanhas publicitárias mas, na prática, pouco se executa de fato. É necessário que os belos discursos se traduzam em ações concretas, na velocidade que a sociedade demanda.


Temos mentes brilhantes por todo o país, profissionais capacitados bem intencionados e empresas com ambição de transformar suas cadeias. Precisamos ser mais audaciosos, mais unidos em torno de projetos de longo prazo e engajados em concretizá-los.


6. O que você gostaria de compartilhar com a comunidade NatureHub Brasil?


Para nós, a Natureza é o início e o fim de tudo. É com esta visão que trabalhamos comprometidos com a regeneração e preservação da natureza e com a produção em larga escala de matérias-primas sustentáveis, com carbono negativo, para a transformação das indústrias essenciais.

Estamos na vanguarda da agricultura regenerativa, que usa técnicas para produzir ao mesmo tempo em que recupera ecossistemas. Dessa forma, temos a oportunidade de construir uma nova cadeia produtiva brasileira sustentável; revolucionar a produção de óleos vegetais; fortalecer a bioeconomia e desenvolver, de forma sustentável, territórios rurais.

A demanda por alimentos e biocombustíveis avançados é enorme, o que gera uma oportunidade ímpar para o Brasil se tornar protagonista no processo de descarbonização da economia global e redução da insegurança alimentar.


 
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