"Nosso modelo de negócios se assemelha ao de um orquestrador no mercado de pagamentos, porém no mercado de soluções climáticas. Nossa plataforma auxilia nossos clientes a planejar e executar sua jornada net-zero de ponta a ponta."
1. Qual é a sua formação e experiência em soluções baseadas na natureza (SBN)?
Gosto de dizer que minha conexão com as Soluções Baseadas na Natureza (SBN) começou ainda na infância. Após me mudar com minha família de São Paulo para São Carlos, no interior do estado, tive a oportunidade de integrar um grupo de jovens que atuava junto a Embrapa para a conservação de matas ciliares da região. Desde muito cedo tive também a oportunidade de acompanhar meus pais em diversas travessias por todo o Brasil, conhecendo de perto a riqueza dos nossos biomas e me conectando com dezenas de povos originários em todas as regiões do nosso país. Toda essa vivência despertou em mim desde cedo a vontade de estudar e trabalhar para colocar o Brasil como protagonista no uso sustentável da natureza para o desenvolvimento de um novo modelo de desenvolvimento econômico.
Um pouco mais tarde, depois de me formar em Economia na Universidade Federal do Paraná (UFPR), tive a oportunidade de realizar um Mestrado Profissional em Inovação pela Universidad Católica de Chile. Esse período me colocou em contato direto com o ecossistema de tecnologia na América Latina e me deu a oportunidade de trabalhar pelos últimos 10 anos como líder de vendas e desenvolvimento de negócios em algumas fintechs líderes líderes de seus mercados no Brasil e no mundo.
Em 2020 finalmente tive a oportunidade de me reaproximar das SBNs, agora atuando como mentor de alguns empreendedores que estavam começando a desenvolver as primeiras startups com soluções para o meio ambiente no Brasil e no Chile. Essa proximidade me ajudou a entender mais sobre a complexidade da urgência climática que vivemos e também mapear as dificuldades para conseguir dar escala para essas soluções. Foi então que, no final de 2023, me juntei à minha sócia Amanda Camargo para iniciar o projeto da Alga e desenvolver uma solução que possa acelerar o investimento global em SBNs e incluir empresas de qualquer tamanho à agenda de soluções climáticas.
2. Como você descreveria a proposta de valor da sua organização para alguém novo no setor?
A Alga é uma solução que permite que empresas de todos os tamanhos deem seus primeiros passos ou então acelerem seus investimentos em projetos de compensação de carbono e preservação da biodiversidade em nosso planeta. Nossa missão é facilitar o acesso de qualquer empresa à agenda de soluções climáticas, atuando como o Chief Sustainability Officer dos nossos clientes, os auxiliando na tomada de decisão quanto aos seus investimentos ambientais e otimizando o fluxo financeiro e operacional para os projetos.
Nosso modelo de negócios se assemelha ao de um orquestrador no mercado de pagamentos, porém no mercado de soluções climáticas. Nossa plataforma auxilia nossos clientes a planejar e executar sua jornada net-zero de ponta a ponta. Além de contarmos com parceiros estratégicos para entregar a melhor solução de mensuração de emissões e gerenciamento de dados, utilizamos inteligência artificial para estruturar (em um clique) inúmeros portfólios com projetos de diversas tecnologias distribuídas globalmente, assegurando o matchmaking ideal e garantindo que nossos clientes possam entender todos os caminhos possíveis para que seus investimentos gerem o impacto ambiental esperado e com alta integridade.
Um dos nossos principais diferenciais é foco na inclusão de pequenas e médias empresas na agenda de soluções climáticas, ajudando assim grandes corporações a avançar com ações junto a sua cadeia de fornecedores e acelerar o processo de descarbonização do complexo Escopo 3.
3. Quais são os números ou insights de mercado que mais te animam no espaço de SBN?
Algo que vejo com bons olhos é o aumento de profissionais com experiência em outros mercados decidindo mergulhar no ecossistema de SBN, trazendo novas perspectivas para o enfrentamento das dificuldades e o amadurecimento dessas soluções, possibilitando assim que as mesmas possam começar um ciclo de crescimento mais estruturado.
Já um dado que considero particularmente promissor é o potencial ainda inexplorado das pequenas e médias empresas (PMEs) nesse cenário. As PMEs são responsáveis por cerca de 70% das emissões das 100 empresas com mais emissões no mundo, mas recebem menos de 3% do investimento destinado a soluções de remoção ou compensação de carbono (CDR). Por isso, entendemos que, para atingir nossas metas globais compartilhadas, é crucial integrar essas empresas na jornada rumo ao net-zero, democratizando o acesso às soluções de redução e compensação de carbono.
Além disso, o crescente interesse dos investidores e aceleradoras por soluções baseadas na natureza e seus avanços tecnológicos que facilitam a rastreabilidade e verificação dos impactos ambientais nos mostram que estamos no caminho certo para ampliar o alcance e o impacto dessas soluções de forma escalável e transparente, mitigando o risco de futuras crises de credibilidade nesse mercado.
4. Quais são as principais dificuldades ou travas que, se resolvidas, podem e têm contribuído para o crescimento das SBN?
Entendo que existem dois grandes gargalos para o avanço da agenda de SBN. O primeiro diz respeito ao ainda tímido avanço de regulações que atuam tanto em prol da segurança jurídica para os projetos e também para impulsionar sua adesão pelo mercado privado como fator estratégico de novos modelos de desenvolvimento econômico. Em segundo, vejo que falta conscientização sobre o tema, visto que muitas empresas ainda não compreendem plenamente as reais consequências das mudanças climáticas em seus negócios. Sem essa compreensão, elas tendem a subestimar a importância de investir em projetos e acabam optando pela inércia.
Acredito que, para conseguirmos destravar o crescimento da SBN no Brasil, será necessário atuarmos cada vez mais com força coletiva e visão sistêmica para avançar com regulações, fluxo de capital, conscientização e soluções preparadas para atuar em escala.
5. Você pode ajudar a esclarecer ou contextualizar uma palavra/conceito no espaço SBN que você acha que é frequentemente mal compreendido?
Acredito que um conceito ainda pouco explorado no Brasil é o de comunidade. Vejo que o ecossistema de SBN e climate techs em nosso país passa por desafios muito similares ao que outros mercados também passaram recentemente, com incertezas regulatórias, ações isoladas e dificuldades de escala. Nesse contexto, entendo que espaços como os promovidos pela NatureHub são fundamentais para furar as bolhas e conectar todos os agentes chave desse ecossistema que buscam crescer e co-criar soluções conjuntamente, trocando experiências, compartilhando detalhes sobre suas trajetórias e fazendo com que todo o ecossistema possa avançar junto.
6. O que você gostaria de compartilhar com a comunidade NatureHub Brasil?
Em primeiro lugar, gostaria de fazer um apelo à comunidade por resiliência e colaboração na construção do nosso ecossistema. As dificuldades são reais, e à medida que as crises climáticas se intensificam, nossa responsabilidade coletiva também cresce. Agora, mais do que nunca, é essencial unirmos esforços para acelerar soluções eficazes e que possam dar escala na nossa entrega de valor.
Gostaria também de convidar todos os membros do Nature Hub a se unirem à Alga. Estamos em fase de desenvolvimento dos nossos primeiros projetos-piloto e buscando ativamente parceiros e desenvolvedores de tecnologias que possam enriquecer nossos portfólios e contribuir diretamente para a criação de uma plataforma que acelere e dê escala aos investimentos em SBNs. Nosso objetivo é atuar como principal canal de crescimento das SBNs no Brasil, e contamos com a expertise de todos para podermos levar para os quatro cantos do mundo todo o potencial que nosso país tem para o desenvolvimento de projetos de impacto.
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