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Visão de Dr. Monique Vanni, Diretora da Wildlife Works: articulando projetos de conservação florestal em parceria com comunidades locais.

Atualizado: 19 de set.

"Nosso diferencial está na abordagem centrada na comunidade: trabalhamos em parceria com as comunidades locais, colocando-as no centro do processo decisório e garantindo que os benefícios do financiamento de carbono cheguem diretamente a elas."
Monique Vanni
Dr. Monique Vanni, diretora da Wildlife Works

1. Qual é a sua formação e experiência em soluções baseadas na natureza (SBN)?


Minha trajetória nas Soluções Baseadas na Natureza (SBN) começou ainda na adolescência, durante a Rio 92, quando desenvolvi um programa de educação ambiental. Desde então, tenho dedicado minha vida a buscar soluções que possam proteger o meio ambiente e, principalmente, melhorar a vida das comunidades mais vulneráveis. Depois de cursar direito, me formei como Mestre em Geografia pelo Kings College em Londres e Doutora pela London School of Economics and Political Science. Meu doutorado focou na cadeia de valor do açaí e seu potencial para promover melhorias nos meios de subsistência das comunidades florestais locais e apoiar a conservação das florestas.


Depois, trabalhei como chefe de inovação na Solidaridad por quatro anos, focando na inclusão digital de pequenos agricultores, e obtive um grau executivo em Liderança de Transformações Digitais pelo MIT. Também atuei como consultora na Caribou Digital, apoiando a FAO na integração de gênero em seus programas digitais e na inclusão digital de microempreendedores de favelas em parceria com a CUFA.


Atualmente, como Country Director da Wildlife Works, vejo uma oportunidade única de colocar as comunidades indígenas do Brasil no centro da conversa sobre preservação, através da proteção de seus territórios, e usando os recursos do mercado voluntário de carbono para isso.


2. Como você descreveria a proposta de valor da sua organização para alguém novo no setor?


Na Wildlife Works (WWC), nossa proposta de valor se baseia na combinação de conservação ambiental com o desenvolvimento socioeconômico das comunidades locais. Nossa missão é proteger florestas e culturas, enquanto capacitamos as comunidades indígenas e tradicionais a alcançarem modos de vida prósperos. A principal forma de fazermos isso é através do mercado voluntário de carbono, financiando iniciativas de conservação.


Nosso diferencial está na abordagem centrada na comunidade: trabalhamos em parceria com as comunidades locais, colocando-as no centro do processo decisório e garantindo que os benefícios do financiamento de carbono cheguem diretamente a elas. Assim, não apenas protegemos a biodiversidade, mas damos o protagonismo e respeitamos a autonomia daqueles que são de fato os responsáveis pelo combate as mudanças climáticas.


3. Quais são os números ou insights de mercado que mais te animam no espaço de SBN?


Me empolga muito o potencial do Brasil no cenário do carbono. Existe um estudo da McKinsey mostrando que hoje aproveitamos só 1% do potencial do país e o Brasil concentra 15% do potencial global de captura de carbono por meios naturais. Estamos falando de um mercado potencial de 50 bilhões de dólares até 2030 e um grande pedaço desse bolo pode ser destinada para as comunidades que mais são afetadas pelas mudanças do clima e que, ao mesmo tempo, são as menos responsáveis por tudo isso.


Também estou animada com os avanços tecnológicos que estão surgindo para apoiar e dar credibilidade ao nosso mercado. Um exemplo é a Tropiko, uma plataforma parceira que centraliza informações de gerenciamento dos projetos de carbono e facilita a visualização e coordenação dos principais indicadores de sucesso, trazendo maior transparência, diligência e confiança para as transações de créditos. Iniciativas como essa são um sinal que o mercado está amadurecendo, com investidores e stakeholders cada vez mais comprometidos em apoiar o mercado de carbono que ainda tem um longo caminho de desenvolvimento.


4. Quais são as principais dificuldades ou travas que, se resolvidas, podem e têm contribuído para o crescimento das SBN?


Hoje, as maiores dificuldades que enfrentamos estão ligadas à instabilidade do cenário político e institucional. A falta de um marco regulatório claro e estável no Brasil, somada à ausência de uma fiscalização eficaz por parte do governo, cria um ambiente de negócios incerto que pode afastar investimentos. O governo precisa entender que cabe a ele dar segurança juridica e integridade ao mercado. Se ele não assumir esse papel, vamos perder essa oportunidade que só vai passar uma vez.


No âmbito global, me preocupa a instabilidade nas metodologias de certificação, principalmente da Verra, a principal certificadora de projetos de carbono no mundo. Essas incertezas mais uma vez minam a integridade do mercado como um todo – como você investe em algo que ainda não tem nem regras definidas? É fundamental fortalecer a governança global do mercado, com a padronização de metodologias e a criação de mecanismos de monitoramento e verificação mais robustos.


Todo o mercado de carbono é pautado em integridade e os governos e certificadoras precisam trazer garantias que hoje não existem.


5. Você pode ajudar a esclarecer ou contextualizar uma palavra/conceito no espaço SBN que você acha que é frequentemente mal compreendido?


Ao atuar nos projetos de carbono, você ouvirá muito a expressão ‘repartição de benefícios’, ou seja, como a receita de um projeto é dívida entre os diferentes atores envolvidos em sua execução.  Grande parte do mercado tem uma visão simplista sobre o tema e isso gera soluções que não funcionam. A busca por uma "fórmula mágica" universal que determine a proporção ideal de benefícios a ser distribuída entre as diferentes partes envolvidas atrapalha todo mundo.


Cada projeto de SBN é único, desde seu tamanho e escopo até os impactos sociais e ambientais que gera. Essa diversidade torna a tarefa de estabelecer uma regra geral e justa para a repartição de benefícios para cada diferente projeto impossível. Parece que não existe o entendimento que os custos e os benefícios envolvidos são variados, complexos e podem mudar ao longo do tempo.


A busca dessa regra de ouro pode diminuir os benefícios para algumas comunidades, para resguardar o lucro dos investidores, ou inviabilizar projetos menores. É preciso que a repartição de benefícios seja um processo transparente, cocriado e flexível. As comunidades locais devem ser envolvidas desde o início do projeto, para que possam expressar suas necessidades e expectativas. E por fim é preciso reconhecer que a repartição de benefícios é um processo dinâmico, que pode mudar ao longo do tempo, em função das mudanças nas condições do projeto e do contexto local.


6. O que você gostaria de compartilhar com a comunidade NatureHub Brasil?


Todas as soluções baseadas na natureza são soluções baseadas nas pessoas. Não existe conservação sem comunidade e o Brasil precisa garantir que dará protagonismo as comunidades que habitam os nossos biomas para dar lidarem a preservação dos seus territórios, com autonomia real e econômica.


 
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