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Visão de Maria Laura Florido, Investment Manager da Impact Earth: promovendo impacto ambiental e social em grande escala.

"Até o momento, já investimos 100 milhões desde a criação do Fundo e esperamos aplicar mais 100 milhões até o final do próximo ano, sempre com o compromisso de fomentar a Amazônia Legal Brasileira e dentro dos pilares estabelecidos. "
Maria Laura Florido
Maria Laura Florido, Investment Manager da Impact Earth

1. Qual é a sua formação e experiência em soluções baseadas na natureza (SBN)?


Nasci e cresci em São Paulo, mas decidi, há cerca de sete anos, explorar outras regiões do Brasil. Desde então, tive a oportunidade de viver em Salvador (Bahia), Boa Vista (Roraima) e atualmente em Belém (Pará). Minha trajetória profissional, que já soma aproximadamente 14 anos, não foi linear. Me formei em Administração de Empresas e comecei minha carreira em bancos de investimento tradicionais, onde aprendi muito – uma verdadeira escola. No entanto, percebi que havia uma rigidez que não me permitia atuar em questões que considero essenciais e que estão profundamente conectadas com quem sou.


Naquela época, o conceito de Investimento de Impacto ainda era pouco difundido nas universidades e no mercado brasileiro. Levei um tempo para descobrir que era possível unir investimentos e impacto de maneira estruturada. Durante essa busca, fiz algumas transições importantes, explorando novas possibilidades para aprender e crescer. Com uma certa coragem para encarar mudanças, apesar de algumas incertezas do mercado, tive a sorte de conhecer pessoas inspiradoras que me apresentaram novos conceitos, ideias e formas de investir.


Depois de percorrer alguns caminhos encontrei a Impact Earth, uma assessoria em Investimentos de Impacto, cuja principal iniciativa é o Fundo de Biodiversidade da Amazônia, em que hoje atuo na liderança das operações no Brasil. Esse fundo possui uma estrutura inovadora, capaz de assumir riscos para investir em gargalos de mercado e gerar valor tanto para os negócios quanto para o fundo.


Minha principal motivação para atuar com Investimento de Impacto é questionar a lógica do mercado tradicional, que muitas vezes resiste em adaptar-se para investir de forma diferente, respeitosa com a natureza e, ainda, crítica à capacidade desse modelo em gerar retorno financeiro. Quero contribuir para demonstrar que isso tudo é possível – embora eu reconheça que não seja fácil.


2. Como você descreveria a proposta de valor da sua organização para alguém novo no setor?


A Impact Earth, por meio do Fundo de Biodiversidade da Amazônia, investe em negócios e projetos que trazem adicionalidade - tanto para o Fundo quanto para os próprios negócios e projetos. Para nós, adicionalidade é uma forma de traduzir o impacto, que pode ser direto ou indireto. Atuamos em quatro pilares principais: (a) conservação e reflorestamento, (b) agricultura sustentável, (c) fortalecimento de cadeias de pequenos produtores e (d) tecnologias e serviços para a biodiversidade. Em cada um desses pilares, abordamos temas transversais, que medimos com indicadores: Clima, Ecossistemas, Espécies, Meios de Vida, Empresas Sustentáveis, Bem-Estar e Inclusão e Retorno Financeiro.


Até o momento, já investimos 100 milhões desde a criação do Fundo e esperamos aplicar mais 100 milhões até o final do próximo ano, sempre com o compromisso de fomentar a Amazônia Legal Brasileira e dentro dos pilares estabelecidos.


O relatório de Impacto do Fundo pode ser encontrado no site da Impact Earth, em que é possível ter um detalhamento de cada projeto e negócio e os resultados até agora. Como estamos falando de iniciativas baseadas na natureza, o tempo de retorno é mais longo do que o de investimentos mais tradicionais, principalmente pois muitos deles envolvem regeneração de terras degradadas, e por isso, devemos calibrar nosso olhar quando estivermos analisando tais resultados.


Os grandes diferenciais do Fundo são a disponibilidade em apoiar na cocriação das estratégias dos projetos e dos negócios, personalizando a estrutura de financiamento e os resultados esperados para cada iniciativa. Com isso, conseguimos estabelecer os indicadores e as ferramentas de monitoramento mais adequadas para garantir que o impacto realmente aconteça de forma sustentável e duradoura.



3. Quais são os números ou insights de mercado que mais te animam no espaço de SBN?


No espaço das Soluções Baseadas na Natureza (SBN), ainda encontramos poucas análises consolidadas, pois este mercado está começando a ganhar visibilidade. Um estudo que marca o setor e frequentemente é citado pelo nosso ecossistema foi conduzido pelo Fórum Econômico Mundial, que estima que investimentos em SBNs possam gerar até US$10 trilhões em oportunidades de negócios e criar 395 milhões de empregos até 2030. Esses números demonstram o potencial econômico associado a soluções que integram a natureza como um ativo econômico e socioambiental, mas é importante notar que essa transição ainda enfrenta muitos desafios.


Tem sido animador ver mais e mais profissionais atraídos para explorar esse setor, mas há uma necessidade urgente de transformar esse interesse em ação. A transição exige muito mais do que capital; demanda uma abordagem sistêmica e colaborativa que conecte políticas públicas, inovação, e uma mudança de mentalidade em investidores e consumidores.


Faculdades, centros de pesquisa e academias precisam adotar uma postura proativa, formando profissionais que entendam como avaliar negócios de impacto, enquanto investidores precisam de resiliência e paciência para permitir que esses fundos provem seu impacto ao longo do tempo. Somente através de uma estrutura de apoio, onde novos modelos sejam testados, validados e ampliados, o mercado começará a acreditar mais firmemente na viabilidade das SBNs.


4. Quais são as principais dificuldades ou travas que, se resolvidas, podem e têm contribuído para o crescimento das SBN?


O espaço das Soluções Baseadas na Natureza (SBN) enfrenta muitos desafios estruturais. Diria que uma das grandes dificuldades para quem quer investir nesse ecossistema é o tempo que esses projetos e negócios levam para atingir um estágio que desperte o interesse do mercado. Existe, sim, um pipeline de iniciativas promissoras em todas as regiões do país (em algumas regiões mais do que em outras). No entanto, ele exige um compromisso de longo prazo e um desejo genuíno de colaborar, cocriar e adaptar soluções junto aos empreendedores e empreendedoras.


Para aumentar a chance de sucesso dessas iniciativas, muitas vezes é necessária paciência e resiliência do investidor, onde é preciso outro termômetro para as expectativas, e muitas vezes trabalhar de forma colaborativa e co-construindo os passos do projeto. Isso vai além de simplesmente fornecer capital; envolve uma postura de apoio contínuo, ajudando na elaboração de modelos de negócios robustos, promovendo visibilidade e reunindo parceiros estratégicos.


Se eu tivesse uma “varinha mágica”, talvez o que mais desejaria seria uma estrutura mais ágil para financiar e acelerar negócios em fases iniciais, mesmo sabendo que não teremos todas as informações prontas.


Os territórios amazônicos, assim como outras regiões, possuem imenso potencial, mas esse potencial só se manifesta plenamente quando se compreende as especificidades locais e as integra a um modelo de desenvolvimento sistêmico.


A demanda crescente por créditos de carbono é um exemplo que tem contribuído para o aumento de SBN, e apareceu muito impulsionada por empresas que buscam reduzir suas emissões e compensar o que não conseguem reduzir. Porém, precisamos ampliar o olhar para além do carbono, buscando valorizar outros ativos naturais, como a biodiversidade, que são complementares e vitais para um futuro sustentável.


5. Você pode ajudar a esclarecer ou contextualizar uma palavra/conceito no espaço SBN que você acha que é frequentemente mal compreendido?


Um mito comum é a ideia de que Soluções Baseadas na Natureza sozinhas serão suficientes para atingir as metas climáticas globais. Embora as SBN sejam ferramentas poderosas, capazes de sequestrar carbono e restaurar ecossistemas, elas não substituem a necessidade urgente de reduzir emissões de carbono na fonte, especialmente aquelas provenientes de combustíveis fósseis.


O petróleo, o gás natural e o carvão representam uma das maiores fontes de emissões de gases de efeito estufa, e essa dependência energética continua a impulsionar o aumento das temperaturas globais. Mesmo com as SBN em expansão, os ecossistemas têm limites naturais em sua capacidade de absorver carbono, e a velocidade com que as emissões acontecem hoje ultrapassa a capacidade de regeneração desses sistemas.


Portanto, focar exclusivamente em SBN como estratégia climática corre o risco de desviar a atenção das ações mais imediatas e impactantes, como a transição para fontes de energia renovável, a redução do uso de combustíveis fósseis, e a eletrificação de setores que ainda dependem de combustíveis fósseis. Uma abordagem que priorize a redução direta de emissões, acompanhada por estratégias de regeneração como as SBN, é uma resposta em rede e mais eficaz para endereçar o aquecimento global.


6. O que você gostaria de compartilhar com a comunidade NatureHub Brasil?


Recentemente, li um livro que reflete bem como enxergo a filosofia de investimentos. The Nature of Investing, escrito por Katherine Collins, traz uma mensagem que ressoa profundamente comigo. Tanto ele quanto as experiências da minha trajetória me lembram que investimentos não precisam ser apenas números em uma planilha; eles também podem ser sementes lançadas para o futuro. E frequentemente nos esquecemos disso.


Em um mundo que enfrenta desafios climáticos e sociais crescentes, acredito que podemos encontrar soluções sustentáveis se aprendermos com a própria natureza. A biomimética nos ensina que os ecossistemas bem-sucedidos evoluem por meio de interdependência, resiliência e adaptação — qualidades que podemos aplicar diretamente em nossos investimentos.


Ao nos inspirarmos nos sistemas naturais, compreendemos que, assim como a biodiversidade sustenta a saúde de um ecossistema, a diversidade de soluções fortalece a resiliência econômica e social. No espaço das SBNs, cada investimento é uma oportunidade de cultivar práticas regenerativas, de restaurar o equilíbrio e de conectar desenvolvimento econômico a impactos ambientais positivos.


Que nosso capital possa financiar mais do que retorno financeiro, apoiando iniciativas que respeitem e se alinhem aos ritmos da natureza, gerando benefícios tangíveis e duradouros para o planeta e para aqueles que virão depois de nós.


 
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