top of page
  • Foto do escritorNatureHub Brasil

Visão de Heitor Filpi, co-fundador da Bioflore: novos caminhos para a restauração e conservação florestal

"Nossa missão é liderar o mercado de tecnologias para gestão, mensuração e monitoramento de ativos ambientais, transformando a vegetação nativa e ecossistemas naturais em ativos de valor econômico."
Heitor Filpi
Heitor Filpi, co-fundador da Bioflore

1. Qual é a sua formação e experiência em soluções baseadas na natureza (SBN)?


Minha jornada com Soluções Baseadas na Natureza (SBN) começou durante a graduação em Engenharia Florestal, quando tive a oportunidade de estudar na Nova Zelândia através do programa “Ciências sem Fronteiras”. Lá, entrei em contato com um software criado para auxiliar produtores em projetos de reflorestamento e me inspirei a desenvolver algo similar para o Brasil, com foco em espécies nativas.


Ao retornar, descobri que poderíamos aplicar o conceito de zoneamento agroclimático, já consolidado na agricultura, para espécies arbóreas nativas através do zoneamento ecológico. Essa ferramenta cruza dados de clima e solo com informações de ocorrência natural das espécies para mapear as áreas mais adequadas para o plantio, aumentando as chances de sucesso do reflorestamento. O rompimento da barragem de Mariana em Minas Gerais intensificou ainda mais meu interesse em desenvolver tecnologias para projetos de restauração florestal, um mercado que percebi carente de soluções tecnológicas. Esse evento marcou meu primeiro contato com o Vale do Rio Doce e com as SBN.


Hoje, sou sócio fundador da Bioflore, empresa que busca suprir essa carência de tecnologias. Atualmente, meu doutorado em modelagem de sistemas agrícolas e florestais, com foco em espécies nativas, complementa minha trajetória, permitindo desenvolver ferramentas para otimizar e garantir maior eficiência nas SBN.


2. Como você descreveria a proposta de valor da sua organização para alguém novo no setor?


A Bioflore utiliza inteligência artificial para combinar dados de inventários florestais, drones e satélites, oferecendo mais agilidade, eficiência e escalabilidade na gestão, mensuração e no monitoramento de projetos de restauração e conservação florestal. Nosso diferencial está em superar as limitações dos métodos tradicionais de inventário de campo, que demodo geral são mais lentos, oferecem menor precisão devido a uma amostragem fragmentada e exigem levantamentos recorrentes com grande esforço de campo.


Nossa missão é liderar o mercado de tecnologias para gestão, mensuração e monitoramento de ativos ambientais, transformando a vegetação nativa e ecossistemas naturais em ativos de valor econômico. Buscamos dar credibilidade e escalabilidade às iniciativas que visam restaurar e conservar ecossistemas naturais, para que tenham impacto global.


O modelo de negócios da Bioflore envolve um time de pesquisadores com ampla expertise no uso de inteligência articial e sensoriamento remoto aplicado à mensuração florestal e projetos de carbono, e um time de desenvolvedores que criam ferramentas digitais baseadas nessas metodologias. Nossa plataforma, FloreViewer, reúne um ecossistema de soluções, que atendem às principais demandas técnicas e operacionais de nossos clientes.


Um dos impactos que mais me orgulha é a crescente aceitação do uso de sensoriamento remoto e inteligência artificial no setor. Há dois anos, havia resistência, mas hoje vemos empresas reconhecendo o valor dessas tecnologias, o que valida nosso trabalho e indica um mercado em expansão.


3. Quais são os números ou insights de mercado que mais te animam no espaço de SBN?


Estou entusiasmado com os recentes acordos firmados entre gigantes da tecnologia e empresas de reflorestamento, como da Microsoft com a Re.green e da Apple com a Symbiosis. A meta da Re.green de restaurar um milhão de hectares de floresta nos próximos anos é um exemplo do potencial de crescimento do setor.


O mercado de carbono, apesar de ter enfrentado desafios, demonstra resiliência e continua a crescer, especialmente em projetos do tipo ARR, que visam remover gás carbônico na atmosfera a partir da recuperação de áreas degradadas. A década de 2020-2030, declarada pela ONU como a década da restauração florestal, está se concretizando com empresas estabelecendo metas ambiciosas e investindo em soluções baseadas na natureza.


Outro ponto que me anima é o fato de que a Bioflore vem crescendo de forma 100% bootstrapping, ou seja, sem investimento externo, o que não é fácil mas é extremamente gratificante!


4. Quais são as principais dificuldades ou travas que, se resolvidas, podem e têm contribuído para o crescimento das SBN?


Um dos principais gargalos é a dificuldade da sociedade enxergar as áreas de vegetação nativa também como áreas produtivas, que geram serviços ecossistêmicos essenciais para o nosso bem estar e sobrevivência no planeta.


O modelo de desenvolvimento atual ainda não valoriza economicamente essas áreas, apesar de sua importância para a produção de alimentos, regulação do clima e outros serviços. A falta de eficiência, transparência e escala na mensuração e gestão desses serviços impede que se dê o devido valor econômico a essas áreas. Além disso, é crucial integrar as comunidades locais nos projetos de conservação e restauração ecológica, de modo a agregar ainda mais valor nos ativos ambientais, inserindo também o fator social, que é tão importante para garantir permanência e sustentabilidade no médio e longo prazo dos projetos.


5. Você pode ajudar a esclarecer ou contextualizar uma palavra/conceito no espaço SBN que você acha que é frequentemente mal compreendido?


O termo "restauração florestal" muitas vezes é mal compreendido, sendo utilizado de forma restrita apenas para florestas, excluindo outros ecossistemas vitais como as formações campestres e savânicas.


É importante destacar que a restauração deve abranger todos os ecossistemas, incluindo os campos, que possuem grande biodiversidade, com grande número de espécies endêmicas e ameaçadas, e desempenham papel crucial na conservação da biodiversidade e manutenção dos recursos hídricos. A destruição desses ecossistemas tem ocorrido em ritmo acelerado, e a fiscalização é um grande desafio, pois muitas vezes são confundidos com pastagens.


Portanto, acredito que é fundamental ampliar o conceito de restauração para incluir todos os ecossistemas e garantir que todos tenham a sua devida importância.


6. O que você gostaria de compartilhar com a comunidade NatureHub Brasil?


Gostaria de convocar a comunidade NatureHub Brasil para unir esforços e conhecimentos, buscando maior colaboração e complementaridade, entre as diferentes organizações que atuam com esse mesmo propósito de impulsionar as Soluções Baseadas na Natureza.


Acredito que juntos podemos alcançar resultados mais significativos na busca por recursos, desenvolvimento de projetos e geração de impacto positivo para o meio ambiente e a sociedade.


 
🌱 Para acompanhar mais entrevistas com especialistas da comunidade NatureHub

Comentários


interview
bottom of page